5.2.12

Baixo a cabeça e procuro por ti. Procuro encontrar-te nas páginas do caderno que seguro nas minhas mãos. Procuro encontrar os pedaços de ti, durante já muito tempo, tanto tempo, tenho deixado nelas. Um bocadinho de cada dia. Na dose certa e igual à que temos um do outro. Não estamos juntos todos os dias, nem a toda a hora. Combinamos ir beber café, passear pelo parque e, de vez em quando, quando passamos pelos senhores das flores e dos balões, tu ofereces-me um balão, ou uma flor. Combinamos ir a casa um do outro, ou até não subir, esperar que o outro desça, ficar cá em baixo, só a conversar. Às vezes sentamo-nos e demoramos tempos inteiros e nas outras vezes temos pressa e, na despedida, damos um beijinho muito rápido. Não é preciso respirar-te a cada minuto, quando tenho de ti toda a tua respiração nos momentos em que estamos juntos. Nunca fomos, e muito menos somos agora, um daqueles casais que se pegam e não despegam mais. Nunca precisei de prender-te, quando sempre te tive tão aqui. Prisões desencadeiam coisas más. Tu tens a tua liberdade, e eu tenho a minha. Não precisamos de mais nenhuma a não ser a que temos juntos. E é por isso que eu sei, que eu tenho a certeza, que se baixar a cabeça e olhar para este caderno, eu vou ter de novo o teu sorriso. Vou ter de novo a tua gargalhada e aquela flor que me ofereceste da primeira vez que fomos passear. Eu sei que te vou encontrar aqui, escrito nestas páginas, da mesma maneira que estás escrito em mim – sem prisões, sem pressões. Estás escrito aqui tal como és para mim. Livre. Bom. Puro. Fazes-me bem. Escrever-te nestas páginas, guardar cada respiração, cada silêncio, cada gracejo, cada gesto, cada palavra, faz-me bem. E acho que nem tem mal nenhum querer guardar-te assim. Talvez um dia te mostre tudo. Até lá vou respirar de novo cada palavra que me disseste ou te ouvi lançar ao ar, e vou encontrar-te em cada página quando mais tiver medo de te perder.

5 comentários: