No Outono, voltas para casa como as folhas começam a cair das árvores: sem avisar, sem que ninguém espere. Numa manhã em que o sol brilha, e não está vento, nem frio, eu acordo com o som da campainha. Desço, e és tu. Penso que posso guardar bem guardada a carta que te tinha escrito na noite anterior, porque agora estavas ali – para me roubar todos estes pensamentos e outros três beijos. Dizes-me bom dia, dizes-me que voltaste e a seguir puxas-me para ti. Tive saudades tuas, sim. Senti-te a falta todas as manhãs iguais a esta manhã de Outono – precisei de ti para me beijares, para me abraçares, para me dizeres que o café já estava feito e me garantires que tudo ficaria bem mesmo que lá fora o céu estivesse negro. Senti-te a falta porque me acalmas como mais ninguém o consegue fazer, porque preenches todo o espaço de silêncio que existe cá em casa, porque ocupas o sítio de tudo, e porque me fazes nem querer, nem precisar de arranjar espaços extra para o que quer que seja. Entras para dentro de casa e depressa as coisas tomam o seu rumo normal – como se nunca tivesses deixado esta casa, como se nunca tivesses saído daqui. E talvez nunca tenhas saído, porque quis sempre manter-te cá e fiz de tudo para o conseguir. Na manhã em que te foste embora, uma manhã muito diferente desta, estava calor. Muito calor. E quando a porta bateu atrás de ti fui para o quarto escrever. Passei-te, a ti e às saudades certas que eu ainda não sentia, para as folhas de papel do meu caderno cor de vinho. Passei-te para lá, depressa, para te guardar bem, lá dentro, tão bem para que nunca mais conseguisses fugir, para que ficasses sempre lá e não me fizesses sentir-te a tua falta. Mas senti na mesma. Há coisas que não voltam pelo papel, não voltam se as escrevermos. Escrevê-las apenas nos permite que elas fiquem lá, escritas, quem sabe para sempre. A tua presença constante, a tua ajuda, a tua ternura, o teu amor não cabe no papel. O nosso amor não cabe no papel. As folhas de papel são demasiado finas para que caibamos lá dentro. Somos tão cheios, demasiado cheios um do outro para caber nos intervalos de uma página para outra. O nosso amor cabe dentro de nós, onde pertence, e o nosso amor pertence a esta casa numa manhã de Outono, em que cheira a café e se ouvem as nossas vozes mas se consegue distinguir a minha voz da tua.
gosto sempre tanto disto.
ResponderEliminarque palavras tão lindas, que texto tão bonito... adorei, inês!
ResponderEliminarque docee!
ResponderEliminarnem tenho palavras para isto, acredita
ResponderEliminarclaro que é uma coisa boa. não podia deixar de ser. e oh agradeço eu. e um bom natal para ti também, inês.
ResponderEliminarexactamente inês, ha coisas que não se podem mesmo perder. eu gosto sempre do que tu escreves aqui, sempre sempre. um beijinho
ResponderEliminarsigo atentamente todas as tuas palavras e digo-te, o teu tumblr é dos meus preferidos (está, inclusive, nos meus marcadores). beijinho grande e nunca desistas de escrever!
ResponderEliminaroh, inês, muito obrigada, sério! <3
ResponderEliminarsempre soube que o amor conseguia curar tudo, preencher tudo. está lindo
ResponderEliminarÉ tão bonito que me fez chorar.
ResponderEliminarUm feliz Natal também para ti, Inês.
P.S. - Preciso de falar contigo.
oh inês linda, lembraste-te de mim, que doce! obrigada e igualmente, espero que tenhas tudo de bom em 2012. mereces
ResponderEliminaradorei, está lindo lindo (:
ResponderEliminarsigo sem dúvida :D
um bom blog sem duvida. do que li gostei :)
ResponderEliminarvejo que és apreciadora de leitura por vou deixar-te aqui a minha página pessoal de textos no facebook. estás a vontade de passar por lá e expressar a tua opinião.
http://www.facebook.com/pages/Cornetto-XXL/364306215945