30.12.11

Adormecemos na praia e a manhã acorda-nos com gaivotas no céu, acordadas há muito mais tempo que nós, longe - numa realidade muito diferente da nossa. Elas são do céu, nós somos da terra. Elas voam, nós andamos. Elas têm uma liberdade que a nós nos transcende. Elas pertencem ao céu como nós pertencemos aqui. Adormecemos na praia e a manhã acorda-nos com uma brisa que te remexe os cabelos e vem até mim, até às minhas bochechas. E não tenhas medo, não esperes mais tempo por aquilo que tanto queres fazer. Há muito tempo que queria trazer-te aqui, falar contigo, adormecer contigo e acordar na manhã seguinte contigo aqui. Valeu a pena esperar, mas se o tivesse feito logo nos primeiros dias em que pensei nisso teria sido muito melhor. Tinha poupado tempo para o gastar mais tarde contigo. Entendes? Não esperes. Não tenhas medo. Não fiques aí à espera que a praia chegue até ti, quando és tu que tens o caminho traçado até lá. Não fiques à espera que sejam as gaivotas a vir ter contigo, quando elas estão tão presas ao céu delas, e à praia. Não tenhas medo, nem vergonha, nem outra coisa qualquer que possa fazer-te recuar, deixar de ser quem és, ter ideias que não as tuas, desistir porque sim. Eu ajudo-te. Dá-me só a mão e conta-me tudo. Diz-me que precisas de ajuda, se precisares de ajuda. Diz-me que queres ir beber café, se quiseres beber café. Diz-me. Diz-me tudo. Só estamos aqui os dois. Acabámos de acordar, estamos na praia, temos a areia colada aos nossos corpos mas não há aqui mais ninguém a não ser as gaivotas no céu.

2 comentários:

  1. "não tenhas medo, nem vergonha, nem outra coisa qualquer que possa fazer-te recuar, deixar de ser quem és, ter ideias que não as tuas, desistir porque sim." - lindo.

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