23.10.11

lemonbars:

come with me (by red biplane)
Não me digas que te esqueceste. Eu ainda tenho o teu cheiro ainda tão colado ao meu, e o teu tom de voz ainda está tão dentro dos meus ouvidos. Ainda te ouço, às vezes, mesmo quando não estás cá, nem perto. Costumavas dizer que um ouvido é para o que se ouve realmente, que acontece naquele momento, e o outro fica guardado para os sons que ficaram, na nossa memória, no nosso coração, de um tempo que foi e não volta mais. Um ouvido é da realidade, o outro da saudade. É para isso que temos dois, disseste-me tu, um dia, antes de te levantares do sofá e ires cantar para a cozinha. Gostavas de te sentar sobre o lençol branco que cobria o sofá, com as pernas para o lado, levantares-te a seguir e passeares pela casa a cantarolar o que for. Não é preciso uma grande música para que tu cantes, assim como nunca foi preciso muito para me fazeres sorrir. O meu sorriso encontrava em ti tudo aquilo que um dia eu me esqueci de guardar. Trouxeste-me isso, de volta. Trouxeste-me tanta coisa de volta, e é por isso que o teu cheiro ainda está tão dentro de mim. Ainda estás dentro de mim, tu. Tu todo, tu inteiro. Dos olhos aos pés. Da tua boca colada à minha. Não me digas que te esqueceste, não esqueceste, pois não? Disseste que não te ias esquecer de mim, mesmo se morássemos um em cada ponta do mundo. E eu guardo isso, tal como a teoria dos ouvidos, até hoje – e é também por isso que ainda te ouço aqui agora: mesmo que estejas a quilómetros e quilómetros de distância, o meu ouvido da saudade traz-te sempre até mim.

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