22.10.11

E é por isso que preciso de ir, é por isso que quando leres isto eu já terei ido. Hoje não percebes, mas talvez amanhã compreendas. Não me esqueças, que te levarei sempre na memória possível de quem nunca se esquece. Preciso de ir, de me perder. De deixar de saber de mim. De me sentir à mercê do vento, da chuva, e do destino. Até do destino, de quem nunca me senti à mercê. Agora preciso disso. Preciso que ele tenha alguma força sobre mim. Sair de mim. Deixar de saber como me chamo, a que cheiro, a que sabe uma pessoa como eu, quantos anos tenho. Sim, de me perder. Achas sempre que não estou a falar a sério, mas quero perder-me. Perco-me imensas vezes durante uma semana, durante um mês. Mas agora vou perder-me para não me encontrar. Tu, sim, só tu. Vou perder-me para me encontrares, e trazeres de volta todos os cheiros e sabores que o destino me resolveu roubar para te dar a ti. Desta vez é diferente. Vou perder-me para sempre, nas ruas de uma cidade que não existe, até me encontrares. E não podes demorar. Existem tempos limite. Para tudo. Mesmo que ainda não tenhas descoberto, eu já descobri. Não demores. Não te percas também. Tens de me encontrar. Traz-me de volta. Peço-te que me tragas de volta antes que se sinta o frio, se precise do quente da lareira, se sinta o cheiro quente da lenha que arde. Peço-te que me tragas de volta antes que tudo isto aconteça, para que eu não tenha de dizer: o Inverno já chegou e eu ainda aqui estou.

11 comentários: