Não consigo perceber que noção é que as pessoas têm de intimidade. Agora é tudo tão forçado, tão falso, tão não íntimo. Intimidade não é lavar os dentes contigo ao meu lado. É perceber cada pormenor teu, sabê-lo de cor, gostar de o contar a outra pessoa que venha de fora e ainda não conheça. É sorrir ao saber o que pensas, sem que me digas. É saber o que os teus olhos dizem olhando para eles uma única vez. É também abdicar disto e daquilo porque é teu, e só teu. Às vezes não pode ser meu também. Intimidade requer respeito, entrega, confiança. Requer o completo desejo e necessidade de que o outro esteja bem. Porque se tu não estiveres, então eu também não vou estar. Não se define o que é intimidade, mas sabe-se bem aquilo que não é nem pode ser. Vem lavar os dentes comigo, logo à noite, depois do jantar, e te explicarei o que acho sobre este coração enorme que é a intimidade. A intimidade é feita de não saber umas coisas, mas acertar em cheio em tantas outras. É dar-te um beijinho na bochecha sem que mo peças, ou quando me dizes que está tudo bem – mas eu sei que não está. Repara: intimidade é saber, conhecer. É perguntar-te que roupa vou vestir e ouvir-te dizer: o vestido fica-te melhor, mesmo estando tu ainda deitado. É ouvir-te perguntar-me se quero realmente continuar a ralhar contigo para que arrumes a tua roupa, e não a deixes sempre pela casa. É ouvires-me responder que sim, quero ficar contigo sempre, mesmo que haja roupa espalhada pelo nosso corredor, pelas nossas escadas, pelo nosso quarto e até pela cozinha. É querer-te sempre, quereres-me sempre. Vem falar comigo sobre intimidade. Quero ouvir-te dizer o que pensas sobre isto. Se concordas, se discordas. Quero saber se faço parte da tua intimidade, se sou a tua intimidade. E quando a conversa terminar e eu puser o meu creme hidratante nas pernas e a seguir vieres tu e me perguntares: Vais pôr a seguir nos pés, não vais? Vou sorrir, porque é disso que é feita a nossa intimidade.