3.9.11


Eu não sei quantas histórias vou ter que ouvir e contar até te ter de volta. Vou ouvir dizer de tudo, com o coração nas mãos e com os ouvidos num sítio escondido para onde vai quem não quer ser encontrado. Vou fazer da minha boca outro coração, para guardar tudo lá e não deitar cá para fora. Se deitar, explode. Se sair, volta a explodir. Não sei onde estás, nem quando voltas. Estou certa de quando as tuas sombras voltarem, tu voltarás também. Que voltará o teu sorriso, os teus olhos, o fumo do teu cigarro, o cheiro que trazes sempre colado, pegado, completamente agarrado a ti. Não sei com quantos sentimentos vou ter que aprender a lidar até tu voltares. Sempre que o telefone tocar, sempre que tocarem à campainha ou me baterem à porta, eu vou ter que esconder as minhas saudades tuas e ser totalmente imparcial. Sempre que chegar uma carta, eu vou ter que pensar que não és tu, porque se fores será melhor, e se não fores pouparei desilusões. Penso em ti sempre, mas só me lembro de ti às vezes. Se me lembrasse sempre, não viveria mais, não teria vivido mais depois do dia da tua partida. Não perceberás metade destas palavras quando as leres, mas talvez eu nem queira que percebas. É melhor que tudo seja como for quando voltares para mim, quando voltar a sentir o teu beijo, o teu abraço, o teu calor e o teu cheiro colar-se, juntar-se, ao meu. Cheio de força, cheio de saudades. Vai tudo ser como tiver de ser, e eu só quero que esse dia chegue. Por isso diz-me: tens saudades de quê? Escreve-me uma carta e diz-me de que é que tens saudades, e quando voltas. Eu tenho tantas saudades, quero tanto que voltes. Saudades de ti, de quem eu era contigo, de te ver fumar o teu cigarro à beira da estrada e de me cantares as músicas das idas e vindas da tua cidade. Traz-me o teu sopro quente das manhãs geladas, das vezes que esperei por ti com a cara cheia de lágrimas, das vezes que esperaste por mim para me fazeres sorrir. Já viste? Somos tão feitos de saudades, de contrariedades e de coisas sem sentido. Já paraste para pensar se também nós seremos duas pessoas sem sentido? Se calhar somos, nem temos e se calhar é por isso que somos tão nós, sempre nós, e por isso não sabemos ser mais ninguém. Se calhar é por isso que temos saudades um do outro, e que esperamos ansiosamente pelo dia em que nos teremos de novo, para ver, abraçar e sentir. Tão cheios de nós, tão vazios de saudades e ausências.

10 comentários:

  1. como é que algum dia me podias desiludir? não me parece que haja um dia para isso. perfeito.

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  2. "Tão cheios de nós, tão vazios de saudades e ausências."

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  3. bé, gostava muito de ler o teu blogue, mas tens o perfil privado.

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  4. Não há palavras para textos como este!

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  5. Oh inês, és um doce, já vi que sim * Fico feliz quando sei estas coisas sabes?

    para ti ♥

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  6. completei-me com eles *.*

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