18.8.11

Onde é que vais? Ouve, espera. Onde é que vais? Tu não podes ir. Tu não podes ir embora agora. Tu tens que ficar aqui. Eu vou afogar-me sem água sem ti. Eu vou voar sem ar sem ti. Tu não te podes ir embora. O teu lugar é aqui, ao pé de mim, ao pé de nós. O nosso amor está quase a nascer, já o ouço, já o sinto. Já vai dando pontapés, daqueles que são dados devagarinho. Os pontapés com a força da vida ainda não existem para o nosso amor, e eu faço questão de o resguardar desses pontapés da vida até ele ter capacidade de os enfrentar sozinho. Ouve, acho que hoje quando me disseste que talvez fosses embora, para outra cidade, ele te ouviu e se encolheu dentro de mim. Talvez eu nem tenha o direito de te pedir que fiques, o direito de te impedir que vás, mas posso pelo menos pedir-te. Posso pelo menos pedir-te que não caminhes à minha frente, caminha ao meu lado. Daqui a dois meses, terei o nosso amor nas mãos e eu não saberei saborear ganhá-lo da mesma maneira se ficar sem ti. Se fores embora, eu vou também, mesmo que não saia de cá. Somos um, lembras-te? Somos sempre um. E podes estar agora irritado, chateado e confuso, que vais e caminhas à minha frente, mas se te fores embora, tu vais sentir a minha falta tal como eu vou sentir a tua. Meu amor, quando me disseste que ias embora, me beijaste a testa e começaste a caminhar, eu fui atrás de ti. Não gostei da sensação de me sentir atrás de ti, senti-me a ser deixada para trás, como as coisas de que nos esquecemos e não queremos saber. Não discutimos. Somos um, somos firmes demais para gritar. Mas agora não consigo não ser firme para impedir estas lágrimas de cair, aqui sentada na minha secretária, só a pensar em ti, só a escrever para ti. Não sei onde estás. Foste à minha frente, em rumo ao nada, e eu não te segui. Não aguentaria ver-nos aos dois afogados no nada de quem tem tudo para dizer. Quero que quando acabar de escrever esta carta voltes para casa, voltes para mim. Quero que conversemos, que tenhamos uma conversa cheia, de silêncios até. Mas precisamos de conversar. Dizer as coisas, beijar a testa e ir embora, não serve. Neste caso, não serve. Temos que evoluir, ou regredir, voltando ao que éramos. Desta maneira, nem me importo de voltar para trás contigo. Precisamos, meu amor, que eu sei que não estás bem. Eu sei que não estás em ti, e precisas de voltar. Não te sintas mal por te teres perdido. Às vezes temos que nos perder, para nos voltarmos a encontrar. E isso, infelizmente ou não, faz tão parte das nossas vidas como eu, tu e o nosso amor, aqui e agora. Não tenhas medo, e volta para mim. Não quero que vás, mas nem tenho o direito de te prender. Prefiro antes que vás, sem deixares de ir, ficando sempre aqui comigo. Porque não duvido que ficaremos sempre aqui, ao lado um do outro, a sonhar, a esperar, de olhos fechados e de olhos abertos. E se, no fim, decidires ir, eu espero que compreendas que nunca poderei sair daqui, mas também nunca poderei deixar de fazer parte de ti. Aprenderei a ficar cá deste lado, a escrever-te, a ligar-te de manhã à noite, a lidar com as tuas saudades. Aprenderei a educar o nosso amor, e decerto que a minha mãe me ajudará, e a tua também. Não duvido. Aprenderei a esperar por ti, todos os fins de semana, e nas tuas férias. Aprenderei porque, por ti, não me importo. Aprenderei a fazer isto tudo, por ti, se te fizer feliz. Aprenderei porque eu quero ficar contigo. Agora chegaste, ouvi a porta bater e, numa espreitadela rápida, vi-te colocar as chaves em cima da cómoda. Vou ter contigo. Prometo que não demoro a ouvir-te, a querer-te bem, a respeitar a tua vontade, a querer ver-te feliz, mesmo que isso faça os meus olhos inundarem-se de lágrimas da dor inicial de ter mesmo que me separar de ti.

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