4.8.11

magnesio:

(by free bliss)

Ainda me consigo lembrar do dia em que te conheci naquela rua cheia de gente, em Paris. E no meio de todas as pessoas, vieste tu. Encontrámo-nos no meio de tantas pessoas. Encontrei-te, enquanto poderia ter encontrado qualquer outra pessoa. Era de manhã, bem cedo, e eu tinha saído para aproveitar o ar fresco da manhã. Trazias vestido umas calças de ganga, e uma t-shirt branca com letras azuis escuras. Calçavas uns ténis cuja marca eu não conheci, e andavas com toda a leveza em ti. Eras leve, sobre o chão. Eras muito leve em mim. Vi-te, ainda vinhas lá longe, no final da rua. O meu cabelo esvoaçava, lembro-me de estar muito vento nesse dia. Aproximámo-nos, passámos muito próximos um ao outro, e ambos sorrimos. Cheiravas a ti. Sim, naquele momento, percebi que não conhecia aquele cheiro e que, por isso, só poderia ser teu. Só poderias cheirar a ti. Ambos avançámos, e eu percebi que talvez nunca mais nos víssemos na vida. Uma cidade tão grande de manhã não iria, muito provavelmente, voltar a juntar-nos. O vento continuava a fazer o meu cabelo levantar, e sabia-me bem. Trouxeste-me todas as coisas boas de um dia, só ao sorrires para mim. Já pensaste o que isso vale? Talvez não, porque tu nunca chegaste a saber. Perdi-te, por entre as pessoas, numa rua de Paris. Percebi isso quando, no final daquele dia, atravessei a mesma rua, para voltar a casa, e não te encontrei. Nesse preciso momento soube que nunca mais te iria ver, e que as minhas suspeitas sobre uma cidade tão grande não nos voltar a juntar estavam certas. Até hoje, que não te vejo. Já se passaram muitos anos, após o nosso encontro, ou desencontro. Talvez tenha sido um desencontro entre ti e o meu coração, que te prendeu para nunca mais largar. Nunca mais te vi, mas nunca te esqueci. A prova disso mesmo é estar aqui, neste momento, sentada na minha secretária a escrever-te. A escrever para ti, que não sei onde estás, não sei com quem estás. Não sei se estás feliz, ou se estás triste, se a vida te corre bem, se o amor te sorri, mas eu gostava muito que a tua vida corresse bem e o amor te sorrisse e tu sorrisses para ele. Porque há coisas que não precisam de anos para serem contadas, sentidas e compreendidas. Eu compreendi que o teu coração era bom naquele instante que se deu entre passares por mim e me sorrires naquela rua que toda a gente encontra de Paris. Porque há coisas que sentes, que vês, e não sabes explicar. Porque nem sempre o que nos atravessa os olhos tem explicação. Meu querido, obrigada por me teres feito encarar Paris de uma maneira diferente, que eu nunca julguei ser a minha. Ainda sorrio ao ver-te sorrir para mim. Ainda me lembro de ti, hoje, e creio que nunca vou esquecer. Sempre que for a Paris, e sempre que nunca sair daqui de onde estou.

11 comentários:

  1. está lindo, inês, lindo. eu sabia que só podia sair mais uma coisa linda, é sempre assim, mesmo quando não sabes.

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  2. maravilhoso, inês! gosto tanto de te ler :)

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  3. e é tão bom saber isso. obrigada, inês querida.

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  4. está lindo o texto, adoro*
    vou seguir *-*

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  5. cartas assim, são adoráveis nês!

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  6. que texto tão bonito (:

    se eu escrever que alturas houve em que fazia por apanhar comboios à mesma hora a que 'o' vi daquela única vez por querer apenas conseguir a segunda chance de o encontrar entre centenas de pessoas, vou só soar pateta. como é que consegues ser só amorosa?

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