2.2.11

i'm in a total love-sick mess.


As ruas estão mais movimentadas durante o dia, e mais frias durante a noite, desde que te foste embora. Já não sou capaz de acordar cedo. Durmo sempre o mais possível, mesmo quando mais precisas de mim. Desculpa. Peço desculpa, porque sei que fico longe de ti, em sonhos, durante muito tempo e às vezes precisas de mim. Precisas de mim só para te fazer companhia, só para te dizer que vai ficar tudo bem. Desde que te foste embora, que peço todos os dias que voltes. E nem sei bem a quem o peço, mas peço, com a força com que gosto de ti. Espero que alguém me ouça, te encontre e te traga. Eu já não sei o que fazer para que voltes, e tragas tudo contigo. Não sei onde estás, não sei onde te procurar. Já não consigo estar em silêncio, porque me lembro sempre das tardes silenciosas que fazíamos questão de partilhar uma vez por semana. Tu sentavas-te no chão, e eu sentava-me à tua frente. Olhávamo-nos, devagar, como se ainda nos estivéssemos a conhecer, e depois sorríamos. Sorríamos muito, e tu dizias tudo no teu sorriso. Eu sentia-te perto de mim, eu sentia que tu eras feliz comigo. Porquê? Porque é que fugiste, porque é que tiveste que ir embora? Deixaste-me sozinha, e por isso agora prefiro o barulho, intrometo-me nas confusões e não gosto daqueles dias em que saio à rua e até o sinal de stop que está lá desde sempre me faz lembrar de ti. Pergunto-me muitas vezes se pensas em mim tantas vezes quantas as que eu penso em ti. Ainda hoje de manhã, foste a primeira pessoa em quem eu pensei assim que acordei. Era cedo, ainda, passava pouco das sete de manhã. Esta noite não sonhei contigo, esta noite não sonhei. Eu fui muito feliz contigo, ao meu lado. Eu era feliz em cada sorriso teu, era feliz a cada vez que olhavas para mim e me dizias tudo. As manhãs de sábado, os pequenos-almoços na cama e os lençóis sujos da compota de framboesa que tu adoravas. Eu metia sempre o dedo dentro do frasco da compota, e depois sujava-te o nariz. Era muito feliz contigo, no autocarro, a caminho da escola, a contar quantos carros passavam e quantos passarinhos voavam. Os carros não podem voar, mas os passarinhos podem passar. Compara-nos a nós os dois, agora. Eu posso passar, mas não posso voar. Tu podes passar, e também pudeste voar. Voaste e eu não sei porquê, não me deixaste nada que me esclarecesse. Não me escreveste, não me telefonaste, nem quiseste falar comigo. Lá está, o silêncio. Tu gostas muito do silêncio, reges a tua vida em torno dele. Mas não pode ser, não pode ser quando se trata de tu e eu. O silêncio connosco não funciona, por isso é que te foste embora? Não sei, mas se foi podias ter dito. Contavas-me que te sentias mal, comigo ou com tudo. Se fosse comigo, eu ia-me embora. Sempre te quis feliz, abdicava e abdico de muita coisa só para estares feliz. Se não te sentias bem comigo, podias ter dito, eu deixava-te ir e atracar em bom porto. Fosse ele quem fosse. Se não estás feliz comigo, eu tenho o dever de te deixar ir, de te deixar voar para onde tens que ir. Era incapaz de te prender, de te tratar mal. Eu amo-te. Mesmo depois destes anos todos longe de ti, mesmo depois de todo este tempo a pensar onde estás. Se estás vivo, se estás morto, se precisas mesmo de mim ou é tudo fruto da minha imaginação. E dói-me, destrói-me, não saber. Não saber é o pior. Eu prefiro saber, prefiro sempre saber. Ninguém é feliz a viver na ignorância, não sabendo com o que é que pode contar para enfrentar os problemas e conseguir ser feliz. Dói-me muito estar longe de ti, dói-me não saber, dói-me que ninguém saiba. Achas que estás melhor assim? Não sei. Gostava de ouvir uma resposta, gostava de conversar contigo depois de todo estes anos. Dói-me não saber se posso chamar por ti, e dói ainda mais saber que quando chego a casa depois de um dia cansativo de trabalho tu não estás lá para me abraçar com muita força. Dói-me não saber com o que é que posso contar, estar sempre na dúvida, num impasse que dói e faz sempre doer. Queria que voltasses. Agora, hoje, amanhã ou depois. Tenho muitas saudades tuas.

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