13.8.11

Hello, stranger. Era mesmo de ti que eu estava a precisar. Tenho nuvens muito negras em cima de mim, e temo que em breve comece a chover, mesmo que seja Agosto e esteja muito calor. Gostava muito que estivesses disposto a vir sentar-te comigo numa esplanada da cidade e conversássemos uma tarde inteira. Talvez hajam coisas que se confessam melhor a quem não sabe, a quem não conhece e a quem está o suficientemente longe para que seja segredo, para que se mantenha segredo. Porque gostar demasiado às vezes não pode ser, é preciso mesmo é não conhecer. Encontrámo-nos, aqui, ao virar da esquina e eu acredito que tenha sido o destino a juntar-nos. Nunca te vi, mas agora preciso de ti. Deixo-te ir, se quiseres, mas se quiseres ficar para mim era muito bom. Acenas-me que sim, com a cabeça, e convidas-me a entrar no café, porque a esplanada não tem serviço de mesa. Pedes dois cafés, e eu venho andando para a rua. Na verdade, nem sei porque entrei. Procurei uma mesa que me agradasse, encontrei e sentei-me. Depois vieste tu, com os dois cafés na mão, muito seguro, sem qualquer possibilidade de que eles pudessem cair redondamente no chão e partir-se tudo. Olhaste para mim com tanta segurança que naquele momento senti que tinha mesmo tido sorte em ter-te encontrado. Sentaste-te na cadeira em frente da minha, e bebeste o café depressa. Ouvi a tua voz, pela segunda vez, quando me disseste: Como é que te chamas? E eu respondi baixinho: Sou a Maria. Sorriste para mim e começaste a falar comigo como se me conhecesses há duas vidas inteiras, desde sempre, para sempre. Não sei se consegui perceber, mas quando dei por mim já estava perdida contigo em Paris. Precisava de ti ali para perceber que afinal nem todos me deixavam sozinha, para perceber que havia gente neste mundo para além da que eu conheço e respiro todos os dias, ou quase todos. Precisava de ti, sem saber, mas precisava. Percebi isso quando me falaste das tuas viagens em Paris e eu me perdi nelas contigo. Com outra pessoa, com outra cidade, com outras histórias, isso não teria de certo acontecido. Talvez estivesse na altura de eu aceitar que há coisas que nunca serão da maneira que nós achamos que elas são bem, mas que por outro lado existem coisas que nos aparecerão sempre quando menos esperamos, e nos farão muito bem. És uma dessas coisas, por teres aparecido hoje. Continuo a conversar contigo, e tu ouves-me muito atento sem dizer nada. Dizes-me tudo com o olhar, mas por fim resolves falar. Tu não sabes nada de mim, apenas conheces o que vês, tudo o resto te é desconhecido. Mas pareces não te importar, e sinceramente eu gosto disso. Confias em mim, mesmo sem saberes, e às vezes isso é importante. Sentir que confiam em nós, sem nós pedirmos isso. Ouves-me contar-te a minha história, o motivo de ir de cabeça baixa no passeio e por isso ter chocado contigo e no fim dizes-me: Minha flor, és já tão grande. Quantos anos tens? Muitos mais do que aquilo que o teu BI poderá dizer, eu consigo sentir. És tão grande, e sofres tanto por quem ainda não conseguiu crescer. Pode parecer-te estranho estar aqui contigo, ter aceitado beber café contigo, estar a falar-te assim, mas eu já me senti assim. Já tive a tua idade, já sofri por amor e por amizade. Que as pessoas falam muito de desilusões de amor, mas esquecem-se das outras. Esquecem-se que as outras também doem, também fazem doer sem parar, e o nosso coração é pequeno por vezes para as suportar. Vim beber café contigo hoje, e virei muitas mais vezes. Deixo-te aqui o meu número, neste papel, para me ligares quando precisares de mim. A que horas for. Falaste tão bem, gostei tanto de te ouvir, que permaneci no mesmo sítio, sem me mexer, a ver-te ir embora, deixando um papel para mim em cima da mesa. Senti-me em casa. Thank you, stranger.

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