Chegaste com um sorriso nos olhos, e confiança nas palavras. Falaste comigo durante cerca de cinco, dez minutos e a vontade de conversar contigo aumentou a cada segundo. Eras tu nas tuas palavras, e não precisavas de ser mais ninguém para eu gostar do que ouvia. Não precisei de pensar na manhã a seguir, em que tu já não irias existir e eu ia gritar, na esperança de que o mundo te trouxesse de volta, porque precisava de ti outra vez. Precisava de te ouvir outra vez. Nunca ninguém me tinha feito gostar tanto de ouvir palavras a sair da alma de alguém. Acredito que a tua alma era a alma mais pura e sonora que conheci até hoje. As tuas palavras transformavam-se em mil e um outros sons que não as tuas palavras. Das tuas palavras, saiam sons como os passarinhos lá fora, uma guitarra acústica a correr a noite devagar, dois sinos que se perderam por aí. De repente paraste de falar e ficámos os dois, sentados nas escadas daquele sítio onde já ninguém passa, onde já ninguém vai. Quietos, como a noite, em silêncio, a namorar a lua. O tempo estava bom, ameno, mas agora está a mudar. Começa a ficar muito frio, gelado, até. É. Estou mesmo a ficar com muito frio. Preciso que voltes a falar outra vez, para que as tuas palavras me aqueçam de novo o coração. Falas-me de coisas de sol e da lua, dos dias de chuva e de outros dias bons. Falas-me de conhecer, desconhecer e reconhecer. Gosto que fales. Espero encontrar-te um dia mais tarde para que possamos voltar a falar de tudo isto outra vez. Dás novos sentidos às palavras, e isso traz-me de volta aos tempos em que era eu a fazê-lo. Agora já não sei, agora tenho-te a ti, por esta noite. Mas o tempo está a acabar, e eu vou ter que ir andando. Espero voltar a encontrar-te noutra noite como esta, por aí, antes do fim.