
Às vezes, aproximo-me da janela e olho lá para fora. Abro-a, e sinto o vento entrar. Bate-me na cara. O mundo continua a girar. As coisas mudam, desde a última vez que as vi. Muda tudo a cada segundo. Pessoas nascem, e outras pessoas morrem. Pessoas discutem e terminam relações, pessoas conhecem o amor da sua vida, apaixonam-se e começam uma relação. Pessoas ficam felizes porque foram bem sucedidas nos estudos, no emprego, e outras choram e gritam aos setes ventos tentando deitar cá para fora tudo o que mundo lhes levou. Estou encostada ao parapeito da janela. Estou quieta, mas nem por isso o mundo pára para esperar por mim. Ele continua. O mundo continua a acontecer, perto e longe de mim. Nalguma parte do mundo, está neste momento uma mãe a dar a luz, um avô a ensinar o neto a andar de bicicleta, uma tia está a cair do escadote e não tem ninguém que a ampare porque o marido faleceu há muito tempo e nunca tivera filhos, alguém deitado numa cama de hospital preparado para adormecer. Noutra parte do mundo, está alguém a roer as unhas e quebrando promessas, os surfistas fazem surf, aviões caem, pessoas fazem amor e promessas de amor eterno, jogadores de futebol jogam à bola e costureiras pregam botões. Parece tudo demasiado certo, demasiado natural, porque foi assim que tu te habituaste a ver as coisas. Não quer dizer que fosse aquele o lugar delas, mas foi aquele lugar onde tu sempre as viste. Foi assim que o tempo te ensinou a vê-las, a senti-las, a percebe-las e a vivê-las. Foi assim que o tempo te ofereceu tudo, de bandeja. Ele só te disse: aproveita, vive tudo, porque senão não tens tempo, porque o tempo não espera por ti. És tu que tens que esperar por ele. Não demores a dizer àquela pessoa tão especial o quanto gostas dela. Não percas tempo com coisas que não valem a pena. Não percas tempo a pensar que a culpa é tua, quando não é. Se caíres, levantas-te. É sempre assim. É um ciclo vicioso. Não deixes para amanhã aquilo que podes fazer já hoje. Hoje tens tempo, e amanhã ele poderá ir-se embora sem se despedir de ti. Faz tudo o que tens a fazer, sê tu mesma, não escondas sentimentos, e não finjas ser quem não és. Se no fim tiveres tempo, melhor. Espera por ele. Ele vai chegar depressa, mais depressa do que tu esperavas. Vão existir, também, vezes em que vais precisar do tempo para superar a dor de um coração partido, a dor de uma desilusão amorosa, ou a dor de alguém que partiu. O tempo regula a tua vida. Dá-te por um lado, e tira-te logo pelo outro. Se não tiveres tempo, não és tu. Ninguém é ninguém. Permaneço à janela. Volto a olhar lá para fora e só vejo tempo. Há tempo em toda a parte. Só consigo ver o tempo a passar-me à frente dos olhos, por dentro do coração.
aw, está lindo inês e tão verdadeiro. adoro, como não podia deixar de ser.
ResponderEliminargostei do que li. gostei mesmo*
ResponderEliminaré esse o problema da vida, ás vezes, o tempo passa e não espera por nós. gostei muito da interpretação que fizeste desse "tempo", está fantástico.
ResponderEliminarObrigada fofinha !
ResponderEliminarobrigada inês linda <3
ResponderEliminarQue texto, inês! Está lindo, lindo, lindo.
ResponderEliminarAdoro este blog, e estas expressoes!
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