5.6.11

Não te admires se algum dia chegares perto de mim e eu te disser que me dói o coração. Não te admires se, noutro dia qualquer, te chegares perto de mim e eu te sorrir com os lábios e chorar com os olhos. Há dias em que eu mostro tudo, digo tudo. Não tenho vergonha de mostrar o que sinto, nem me sinto mal por isso. Sinto-me livre se falar, se dizer e se fizer. Há outros dias em que eu guardo para mim, porque acho que a minha dor é só minha. Não a partilho com ninguém e acho, nesses dias, que nem tenho esse direito. Eu sou muita coisa. Mudo muitas vezes a minha maneira de estar, nunca a de ser. Sou inconstante, e não sei sê-lo. Nunca ninguém me disse: Inês, aprende a ser inconstante. Nunca ninguém se sentou à mesa comigo e me ajudou a aprender a ser inconstante. Nunca ninguém o fez, porque nunca ninguém aprendeu a ser inconstante. É uma daquelas coisas em que eu achava justo que se colocasse o manual de instruções por baixo, por cima, ao lado, atrás ou à frente. E até pessoas precisam de manual de instruções, mas isso seria outra conversa. Deixa-me só que te diga que sou sempre a mesma pessoa, com fases diferentes. Às vezes sou como a Lua, e como a Gabriela. Temos fases. Nem todas as pessoas têm fases. Às vezes, preferia não ter. Preferia isolar-me de tudo, até de mim. Não querer saber de nada, não querer ter nada e, por isso, não sentir a falta de alguém ou algo que perdi no caminho para casa. Que perdi no autocarro, que deixei no cacifo, que se perdeu sozinho, que ficou para trás porque era mais fácil. Queria não saber de nada, nem de mim. Ser eu e não saber. Acredito que, assim, seria muito mais feliz – e nunca saberia quando estou triste. Nunca sentiria a dor no peito, nem as lágrimas a correr pela minha cara, nem sequer o corpo a tremer. De medo. De receio. De instabilidade. De tudo. De mim. Acredito que, sem sentir, era feliz. Mas eu não sou assim. As coisas não assim. Sentimos, e eu até gosto muito de sentir. O caminho mais fácil não, sem qualquer tipo de dúvidas, o melhor. Nunca é. Não é por ser mais fácil, mais perto, melhor, que trocas uma coisa pela outra. E, se o fazes, então não sabes dar valor às coisas. Não sabes o que é o respeito, a integridade, nem a força do amor. Não troques isto por aquilo só porque é mais fácil, e te parece proveitoso. Acredita que quando mais parece menos é. As aparências estragam tudo. Fica como és, mantém-te quem és, sê quem és sem medos nem receios. Tens medo de quê? Todos temos, só não nos podemos esquecer é que o medo não nos pode vencer. O medo vence-nos. E o medo estraga tudo. Às vezes, vence. Numa contrariedade de ideias que tentas colocar em papel, dás conta de que realmente o medo às vezes te vence. Sem que tu esperes, ele vem, apodera-se de ti e fica. Durante muito tempo, ou durante apenas vinte e quatro horas. O tempo que tu deixares, ou o tempo necessário até tu conseguires afastá-lo de ti. Às vezes o medo vai-se embora com palavras boas, silêncios melhores ainda, olhares e sorrisos. Vai-se embora com abraços, beijinhos e carinho. Muito carinho. Às vezes o medo vai-se embora quando te sentas numas escadas de um prédio onde já ninguém vive, ou quando te sentas no passeio bem baixinho perto da piscina municipal da tua zona com alguém com quem gostas muito de estar. Às vezes, vai. Hoje foi. Mas volta. Não fui forte o suficiente para o impedir de voltar. Desculpa-me. Eu não sou tu, nem tu és eu. Não sei ser como tu. Só sei ser eu. Não sei ser inconstante sequer. Não me ensinaram a ser mais ninguém. Faz o que te digo, não faças o que eu faço. Mantém-te tu. Sempre tu. Eu manter-me-ei eu. Sempre eu.

2 comentários:

  1. eu fico de queixo caído com estas tuas palavras.

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  2. Eu já te disse, mas mais uma vez tinha que dizer que me fizeste sorrir, Inês.
    E mais uma vez tenho de dizer que as tuas palavras são lindas, e que me identifico com tudo isto que escreveste.
    E MAIS UMA VEZ: GOSTO MUITO DE TI!

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