28.5.11

14doors:

(by constanza flor)
Eu já não sou quem tu um dia quiseste que eu fosse. Cresci. Tornei-me em quem sou agora, e não me arrependo nada de te ter deixado pelo caminho. Sabes, às vezes precisamos de parar e contar até três. Se as três não chegarem, contas até dez. Até vinte. Até trinta. Não tens o tempo contado, tens uma decisão para tomar. Depois de todo o teu tempo passar, tomas a decisão e cresces. Não cresces de repente. Vais crescendo, aos bocadinhos. O tempo dá-te outra vez mais um bocadinho dele para cresceres. Nestas alturas, não duvides de que o tempo é mesmo teu amigo. Com o tempo, começas a crescer. Ficas mais alta. O teu cabelo cresce. Os teus ossos adaptam-se. Os teus músculos fazem doer. Os teus ténis deixam de te servir. Os dentes do siso nascem. Mudam muitas coisas, mas é muito importante que continues tu a ser o molde. Mais ninguém. És tu a base, o projecto inicial e original. Não te deixes ir por um caminho diferente. Tens que chegar ao final da viagem inteira, tu, verdadeira. E não te preocupes com o tempo que demoras, não percas tempo a fazer perguntas como: Já cheguei? E agora? Como é que eu sei que cheguei? Quando o teu tempo chegar, tu vais saber. Vais perceber, vais sentir. Vais saber logo que és tu e que vieste para ficar. Nunca deixes de ficar contigo. És a tua melhor companhia. E eu? Eu nunca deixei de ficar comigo. Fiquei sempre comigo, nunca me traí. Nem mesmo quando tu me quiseste mudar e levar para longe. É por isso que eu sou eu e te escrevo isto, e é por isso que tu és tu e nunca lerás isto. As coisas mudam. As pessoas crescem. Eu cresci, a minha vida mudou. Gostava de saber onde estaríamos nós se nada tivesse acontecido naquele dia. Gostava de saber, de poder ver, de fora, como seria eu ao continuar ao teu lado depois de tudo o que aconteceu. Ainda bem que aconteceu. Ainda bem que o tempo passou, e ainda bem que não posso voltar atrás e mudar as coisas. Acredita que tenho muita curiosidade em saber como seria, mas a minha vida agora é esta. Tenho pena que as coisas tenham seguido estes caminhos, ganho estes novos rumos. Tenho pena que tenhas feito o que fizeste, que sejas quem és realmente. Tenho pena que tenhamos vivido uma mentira tão grande durante tantos anos. Tenho muita pena. De ti também, sim, e das pessoas a quem agora atribuis títulos que outrora me atribuíste a mim. Veremos se lhes farás o mesmo. Não nego que fico triste a cada vez que penso em ti. Fico, fico muito. Penso em tudo, e choro. Volto a chorar as vezes que forem precisas. Foste a minha maior desilusão, até agora. E só te tenho a agradecer por uma única coisa: obrigada por teres feito tudo, assim, desta maneira. Só assim é que me mostraste a força que eu realmente tinha dentro de mim. Provei a mim mesma que, sem ti, eu consigo ser muito feliz. Eu nem deveria querer saber de ti. Não me deveria importar metade daquilo que me importo contigo, e, apesar de achar que todos tempos que pagar pelos nossos erros, não te desejo mal. Tenho muitas mais coisas para fazer para além de te rogar pragas. Que chegues ao final da viagem inteira, apenas inteira, porque perdeste a verdade toda quando me deixaste sozinha e traíste a nossa amizade.

3 comentários:

  1. quando as pessoas nos querem mudar, levar para longe e quando nos deixam sozinhas, não vale mais a pena. está tão bonito, inês.

    ResponderEliminar