
E é quando as ideias não vêm, fogem, vão embora e voltam até mim sem razão, que eu me encontro e me perco e me deparo contigo. É quando o meu coração se prende ao passado. É quando todos me dizem que não, é quando o sol não brilha e o mar pára. É quando estou triste. É quando choro sem razão, e os olhos me pesam, que te encontro outra vez dentro de mim. Ficaste perdido num fio de cabelo meu, que gostavas de acariciar e cheirar nas tardes de verão em que ficávamos sempre na esplanada do café do teu pai. Ficaste perdido nas cartas que escrevemos um ao outro, enquanto estiveste fora em trabalho. Ficaste perdido no sofá da minha sala. Sinto o teu cheiro a cada vez que me sento lá e penso em ti. Eu penso muito em ti. És talvez das pessoas que passa mais tempo comigo, em pensamento. És talvez das pessoas em quem mais gosto de pensar. Muitas das vezes sento-me na relva, e converso contigo. Digo-te tudo, faço-te perguntas e conto-te o que não sei contar a mais ninguém. Sei que, onde quer que estejas, me ouves e estás sempre comigo. Às vezes, chego a zangar-me por não me responderes. Queria que me respondesses sempre. Queria que ainda aqui estivesses comigo. É só isso que quero. Não peço mais se te tiver comigo. Prometo-te que é verdade. Queria acordar todas as manhãs de sábado e domingo ao teu lado, queria levar-te o pequeno-almoço à cama e acordar contigo e com a tua cadela em cima de mim. Queria tomar duche depressa, e correr para a tua casa só porque já estavas à minha espera há muito tempo. Queria que, em tempo de aulas, me viesses buscar todas as manhãs e me levasses à escola. Queria que aquele dia não tivesse existido. Queria que te deixassem ficar sempre comigo, porque nós temos que ficar juntos. Temos que ficar sempre juntos. Tu és eu, e eu sou tu. Vejo-te quando me olho ao espelho, porque ficaste em todas as partes de mim. Nunca ninguém me ocupará desta maneira tão inteira como tu conseguiste. É, sobretudo, quando me olho ao espelho que o meu coração recua dois anos e te traz de volta. E volta a ser verdade. Voltas a estar comigo. Voltas a rir-te comigo, a soletrar palavras durante horas, a cantar-me ao ouvido e a fazer caretas com os meus óculos de sol postos. Sem estar sol. Não precisa de estar sol. O nosso sol é o nosso amor. O nosso céu não tem céu, e o nosso chão fica aqui. Voltas a ler-me coisas que eu sempre quis ouvir. Voltas a ensinar-me a tocar guitarra, e voltas a querer andar de bicicleta comigo durante pelo menos meia-hora por tarde. Volta tudo. Volta o bem e volta o mal. Voltam os dias que agora são só memórias. Volta o meu amor. Voltas tu, de um modo assombrante, por parecer que estás mesmo cá. Para mim, estás. Nunca deixaste de estar. Mas é muito difícil. Tenho a certeza que se tudo tivesse acontecido ao contrário, saberias lidar muito melhor com isto do que eu. Tenho mesmo. Sempre soubeste lidar com as piores situações da melhor maneira. Sempre encaraste os problemas de frente. Sempre seguiste em frente, enquanto houve estrada para andar, tu continuaste. Mas eu, por mais que seja tu, não consigo ser assim. Não consigo lidar com as coisas assim tão levemente, tão facilmente. Eu caio. Atinjo o fundo do poço, e depois não sei como voltar cá acima. Preciso de ti para me levantares. Eu não sei se ainda há estrada para andar. Não sei se ainda posso continuar. Não sei se tenho as forças necessárias. Ajuda-me a descobrir. Eu não sei. Nem sequer sei dizer-te mais do que te perdeste em mim, para nunca mais voltares a ser descoberto. Não sei dizer-te mais do que isto. Hoje, aqui e agora, não sei. Perdeste-te nos beijinhos no pescoço, nos beijos nos lábios, nos picares de olhos, nos sorrisos. Principalmente nos sorrisos, ninguém sorri como tu sorrias. Perdeste-te também nas tardes na quinta da tua avó, e nos jantares em família. O teu pai gosta tanto de mim. Ainda hoje, quando voltei das aulas, passei lá no café para lhe dar um beijinho. E à tua mãe. Perguntou-me se eu queria lanchar, mas eu disse não, obrigada, acabei de comer uma sandes. Tinha acabado de comer uma sandes de frango como tu costumavas fazer para mim. Antes de sair, ela ofereceu-me um malmequer branco, e um beijinho na bochecha. Vim a sorrir até casa. Quando entrei em casa, não estava ninguém. Só o silêncio. E foi por isso que voltou tudo. O silêncio traz-te sempre. Vai-te sempre buscar, mesmo que não queiras vir. E foi isso que pensei em ti durante todo o resto da tarde, até à noite. Foi por isso que percebi que te perdeste em mim, foi por isso que agora estou a escrever para ti. São dez e meia da noite. Já jantei. A minha mãe não jantou, perguntei-lhe o que é que se passava e ela não me respondeu. Não insisti. Estou aqui no quarto, a ouvir música e a escrever para ti. Os Snow Patrol sempre ensinaram sobre o melhor a dizer, a fazer e até a pensar. Quando terminar, vou rever a matéria de história, porque tenho teste amanhã. Do que tu te safaste. Ouve, preciso que torças por mim. Estou a começar a ficar nervosa. Obrigada por me ouvires sempre. Se pudesse, agora sussurrava-te ao ouvido o quanto gosto de ti.
não sei escolher as palavras certas para te dizer o quanto amei este texto. juro.
ResponderEliminarEstá algo que só o teu texto responde o que sinto. Foi um amor que senti enquanto lia o teu texto. Foi isso que fiquei no coração quando acabei de ler. E adorei tanto. Tu escreves tão bem. Tu fazes as palavras serem tão pequeninas dentro do teu coração. Fazes sempre os sentimentos serem tão grandes, com tão poucas palavras. Fazes isso de uma tão bela maneira. *-*
ResponderEliminarestá mesmo lindo, inês. :')
ResponderEliminarestá perfeito!
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