às vezes, canso-me.

Às vezes, canso-me das coisas. Não sei o que fazer. Canso-me de tentar sempre, e nem sempre conseguir. Canso-me que as pessoas sejam sempre as mesmas, orgulhosas e muito seguras de si mesmas, quando não têm sequer motivos para isso. Canso-me que se sintam acima, quando na verdade estão mil e trinta graus abaixo. Canso-me, porque estas mentalidades de agora não combinam comigo. Canso-me dos casais apaixonados durante uma semana e meia, canso-me por saber que não pensam numa vida inteira. Já ninguém quer gostar de ninguém. Dá trabalho demais. Já ninguém quer conhecer a outra pessoa, com a mesma velocidade a que se conheceu a si próprio. Canso-me pela falta de carinho, pela falta de amor, de sensibilidade e aceitação. Começam a namorar sem razão, acabam duas semanas depois porque não dava. Não aguentaram a pressão, e a outra pessoa não era quem esperavam. Mas porquê? Porquê? Se a culpa de tudo isto é deles mesmo, que se recusaram a conhecer-se antes de avançarem para algo melhor. Canso-me, porque vejo casais a passear pelas ruas sem falarem. Não têm assunto, não se dão ao trabalho de comunicar, não querem saber. Só importam que sejam namorados. Só importa que chamem namorada e namorado um ao outro, mas não sabem que namorar não é caminhar lado a lado sem falar. Precisam que alguém lhes ensine. E por isso, canso-me. Canso-me das pessoas não vivem, só existem. Canso-me, porque já nada é como deve de ser. Canso-me, garanto que comigo as coisas irão sempre tomar rumos novos, porque me canso sempre. Não gosto de rotinas, nem de coisas iguais. Não gosto de mentiras, nem de relações banais. Canso-me, porque já ninguém se apaixona de verdade, já ninguém quer saber de um para sempre. Canso e volto a cansar-me, duas vezes de seguida. Já não sei, já não percebo nada. Esta realidade não encaixa comigo. Diz-me tu, agora, se não seria melhor viver como eu e tu vivemos há uns anos atrás. Diz-me tu, agora, se não concordas comigo e se também não te cansas. Tu cansas-te, e eu canso-me. Eu canso-me, e tu cansas-te. Ainda acreditamos no para sempre, e esta realidade comum a tanta gente não encaixa connosco. Continuamos iguais ao que sempre fomos. Ainda somos feitos dos mesmo sonhos.