20.12.10

isto é só a minha imaginação a funcionar.

Gosto de recordar todos os momentos em que me encheste o coração. Em que me fizeste feliz, e me deste vontade de tocar no céu. Esse sentimento é tão bom, sabes? Já experimentaste? Ainda não? Não sei de que é que estás à espera. É um sentimento tão bom, faz-nos sentir tão livres. Mas, se quiseres, eu ajudo-te. Já fizeste comigo, está na altura de eu retribuir. Não me importo nada, prometo. Como queres que faça? Queres que te beije? Ou queres que apenas te agarre na mão e sorria? Eu sou capaz de fazer isso. Agarro-te na mão, e passo um dos meus dedos pelos teus. Sei que tu gostas, embora te cause arrepios. Depois olho para ti, sorrio, e peço-te que feches os olhos. Concedes-me o pedido e, nos minutos seguintes, os meus lábios encontram os teus. Ainda te lembras de todos os nossos momentinhos especiais? Dávamos-lhe mesmo esse nome. Era tão bom ter aquelas tardes de Domingo, em que o telefone cá de casa tocava, e eu sabia logo que eras tu. Em que eu ouvia a tua voz, do outro lado, e sorria muito. Muito, muito, muito. Pedias-me que fosse ter contigo ao portão, que estavas mesmo a chegar. Quando nos encontrávamos, abraçávamos com muita força, como se não nos víssemos há imenso tempo. Gostavas de me ter assim, bem pertinho a ti. Encostavas o teu lábio ao meu ouvido, arrepiavas-me, e sussurravas-me coisas bonitas. Dizias que estava linda, e que a cada dia que passava gostavas mais de mim. Eu ficava sem jeito, envergonhada, com as bochechas mais que vermelhas, esperando que me lembrasse de algo interessante para dizer. Mas isso nem sempre acontecia, e quando tu te apercebias, olhavas para mim com um olhar protector, como se eu fosse tua e tivesses que cuidar de mim. Bem, na verdade, eu era tua. Entregara-me a ti como nunca acontecera com ninguém. A parte de teres que cuidar de mim, só a ti te dizia respeito, mas eu sabia que tu querias. Sabia que tu precisavas de mim, tal como eu precisava de ti. Completávamo-nos tão bem, lembraste? Sei que sim. Não dizias a toda a hora que gostavas de mim, eu também não o fazia, porque ambos sabíamos que isso nem era preciso. Cada olhar, cada sorriso, cada gesto, valia tudo. Tudo o que mil palavras não conseguiriam dizer. Passávamos tardes e tardes juntos, no café, na praia, nas nossas casas ou no jardim. Eu gostava, e ainda gosto, do cheiro do mar. Gostava de me sentar na areia e apenas ficar a olhar, gostava de me sentir ali, a escassos metros da água. Gostava do cheiro, da temperatura, do som, e de todo aquele ambiente. Sabias disso, e sempre que o tempo permitia, levavas-me até à praia, tentando fazer uma surpresa. Mas em vão. Quando atravessávamos o último túnel, já eu sabia que íamos à praia. Já conhecia todas as curvas a fazer, todos os movimentos que o carro tinha que efectuar. E já conhecia o cheiro, o cheiro que me entrava pelas narinas, e me fazia levitar. E sonhar, connosco. Com o nosso futuro casamento, ali naquela mesma praia, rodeados por aquele mesmo cheiro, também o cheiro que eu não me importava que fosse comigo para casa. Diz lá que não era bom. Nunca sonhaste com isso? Não sei, nunca te perguntei. Mas alimento certezas de que um dia se realizará. Se não for ali, será noutro lugar qualquer. Notas que estou concentrada, não em ti, no mar, e isso não te agrada. Puxas-me, com força, para junto de ti, como uma criança que pede atenção. Pergunto o que se passa, e dizes que me queres só para ti. «Não sejas tonto» - Respondo. Continuas na tua, querendo que deixe de olhar para o mar e que concentre a minha atenção em ti. Como não deu resultado, dás-me um beijinho no pescoço. Nem assim. Perguntas-me no que estou a pensar, e por momentos, fazes-me lembrar a minha prima mais pequena. Não por qualquer parecença física, mas pela maneira como fizeste a pergunta, atribuindo-lhe um tom de curiosidade e doçura. Por isso é que te digo que pareces uma criancinha, que és a minha criancinha, não porque hajas como tal, mas porque me fazes lembrar uma criança. E isso não é mau, mesmo nada mau, eu adoro crianças. Respondo-te que penso em ti, em nós. E tu ergues a sobrancelha. Depois de outros minutos sem ambos falarmos, voltas a tentar iniciar conversa. «Estares a pensar em nós é bom ou é mau?» «É bom – Respondo – É muito bom. Tão bom como estar aqui contigo agora.» E volto a sorrir. Também sorris para mim, mas algo não ficou totalmente esclarecido para ti. E fizeste outra pergunta. «Porque é que estás a pensar em nós e a olhar para o mar?» E eu penso no que vou responder, pois não sei mesmo se ele perceberá os verdadeiros motivos. Porque a nossa relação e o mar são as únicas duas coisas que, para mim, ainda fazem sentido. Verdadeiramente sentido. Fazem-me bem, fazem-me livre e sem qualquer tipo de receios. Posso perder-me e encontrar-me, quando quiser, basta piscar os olhos. E é porque é aqui junto ao mar que eu um dia me quero casar contigo. Acabo mesmo por te dar esta resposta, faltando-me capacidade para uma melhor. De qualquer das maneiras, eu sabia que essa resposta te chegaria, mas que te iria pôr a pensar e originar novas perguntas. Ficas admirado por ter tocado no assunto casamento, mas eu não me deixo vacilar. «Já pensaste? Um casamento aqui? Não era bonito? Bem, é só uma ideia, se não quiseres está tudo bem» «Claro que quero. Brincas? Isto aqui é lindo. E por saber que te faz sentir bem, feliz, ainda mais bonito se torna para mim» - Respondes, envergonhado. Continuas a conversa, interrogando-te sobre o que se seguirá ao casamento. Conto-te todos os meus planos, todas as ideias que já tive. Olho para ti e vejo-te surpreendido, ou talvez aterrorizado. Não consigo distinguir bem, ainda. Falo-te sobre a nossa casa, das ideias que tive para os sofás, da cozinha ligada à sala, pintada de cores bonitas e que se vejam bem. Falo-te de termos de arranjar uma espécie de escritório para todas as minhas coisas, todas as minhas tralhas, e todos os meus projectos mais recentes. Falo-te do meu peixe, havemos de lhe comprar um aquário novo, e enfeitá-lo com pedras bonitas. Ajudas-me com isso? Prometes? Eu confio no teu bom gosto. Falo-te de todos os pormenores, falo-te até da cama suspensa. Branca, com almofadas amarelas, daquele amarelo das roupinhas dos bebés. Uma cama de princesa, com que sonho desde pequenina. A cama de uma princesa que quer partilhá-la com o seu príncipe, para lá de todas as meias-noites.

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