25.9.10

111.

Permaneces, aí, ao longe. Bem longe de mim, do meu corpo. O meu corpo que quer sentir o teu; que tem saudades do teu sentir, do teu toque, daquele calor enorme e tão teu. O calor, o teu calor, o calor que me ofereces todos os dias. O calor que trazes até mim sempre que chegas, sempre que te encostas a mim, e sempre que me abraças. O calor que me protege, me faz sentir segura e não me deixa vacilar. Continuas aí. De vez em quando, procuras-me com o olhar. Quando me encontras, ficas especado e olhas para mim, mas não dizes nada. Preferes o silêncio, como sempre fizeste, não é? Sim, sempre preferiste o silêncio, sempre quiseste, sempre deixaste que ele falasse por ti. Por ti, por mim, por nós. Gostas dele, e ele gosta de ti. Olhas, novamente. E desta vez, eu retribuo o olhar, mas também não digo nada. E começo a gostar, a achar piada, à situação. É um silêncio, um silêncio bom, um silêncio nosso. Desvias o olhar para o céu, azul, grande. Perfeito, parecido contigo. Agora, desta vez, mudas de posição. Colocas as mãos em cima da barriga e cedes-lhes o privilégio de se balançarem ao nível da tua respiração. Desta vez, prendes o olhar a um ramo de árvore. Aquele céu está a fazer-te lembrar dos momentos que passámos nesse mesmo espaço, nessa mesma mata, a olhar o céu e a adivinhar o significado de cada nuvem. Quantas vezes não o fizemos? Quantas vezes não teimámos um com o outro que parecia uma tartaruga, quando no fim parecia era um elefante? Ah? Diz-me lá. E eu sei que te estás a lembrar disso, conheço-te. Fazes essa cara, assim meio de mau, e esqueces-te de que te conheço há muitos anos e que nada do que fazes me fica indiferente. Reparo em tudo, ou em quase nada. E sei que gostas do silêncio, daquele silêncio bom que nos consegue dizer tudo, mesmo que às vezes não queira. Aquele silêncio nosso, que vai durar para sempre. Basta lutarmos, acreditarmos, querermos. Portanto, vem viver comigo. Anda, vá. Não queres? Anda. Vamos viver juntos, partilhar o mesmo espaço, viver, dormir na mesma casa, partilhar a escova de dentes. Vamos sonhar, os dois, em conjunto. Até amanhã.

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