19.7.10

40.




Sentado na mesa em frente, um senhor engole a comida, apressadamente. Estará com pressa? Penso eu. Chegou, sentou-se, e esperou que lhe trouxessem o seu pedido. Lançou vários olhares ao ecrã da televisão, que transmitia um jogo de futebol, da liga Italiana. Mas ele não gostava de futebol, muito menos de italianos, percebia-se. Vi, assim que olhei para ele, que não gostava de futebol, não estava mesmo nada interessado. Via-se que apenas queria algo que o distraísse. Precisava de se distrair, e queria evitar pensar em coisas que só lhe faziam mal. Tinha o cabelo castanho, escuro, e um pouco comprido. Estava meio despenteado, talvez um toque de rebeldia que lhe desse uma certa piada. Nos poucos minutos em que ele levantara a cara e olhara em redor, notei que algo se passava com os olhos dele. Tinha os olhos meio fechados, escuros, tristes, e com vontades de verter as lágrimas que há tanto tempo guardam consigo. Estavam sobrecarregados, a precisar de liberdade. Algo se passava também com o seu coração. O quê? Talvez um amor que tenha chegado, devagarinho e lhe tenha roubado o coração. Raptou-o, pressionou-o, e não descansou enquanto não alcançou. Fez com que se perdesse de amor por eles, para depois partir. E o deixar completamente destroçado. Um amor que lhe fizera bem, no início, e muito mal no fim de tudo. Um amor que foi, e não voltou. Um amor que lhe roubou o tempo, o amor pelos outros, a liberdade, a confiança. Um amor que levou tudo com ele. Estende-lhe a mão, estende. Não tenhas vergonha, ouviste? Diz-lhe. Diz-lhe tudo o que tens a dizer. Diz-lhe que ele não tem razões para ter medo e para se sentir assim, já nos aconteceu a todos. Diz-lhe que o ajudas. Ele precisa disso, vai agradecer-te.

2 comentários:

  1. "Um amor que lhe roubou o tempo, o amor pelos outros, a liberdade, a confiança. Um amor que levou tudo com ele."
    apenas um pedaço da tua escrita que encanta todos, inês. meu tesouro até ao fim :')

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