14.

Sou alguém que ninguém sente, ninguém vê? Um ser que ninguém vê, mas que vê toda a gente? Nem eu me sinto, nem quero que me sintam? Não gosto de toques, mimos, beijos, nem de abraços? Já gostei. Já me entreguei, e já saí magoada. Agora sou, estou, assim. Não sei bem como. Nem sei bem se estou, ou se não estou. Não sei. Mas serei a única? Repito, de certeza que não. Nunca estamos sozinhos no mundo. Há sempre, sempre, sempre alguém. Alguém, num canto qualquer do mundo, que sente o mesmo que nós, da mesma maneira. Há sempre alguém que não tem quem amar, ou que não tem quem o ame. Há sempre alguém, mas nem sempre encontramos esse alguém. É isso tão parvo, estúpido, imaturo, imoral querer encontrar alguém que partilhe connosco os mesmos sentimentos e pensamentos? É assim tão ridículo sofrer, não gostar disso, e por isso não querer voltar a sofrer? Digam-me. Respondam-me. Eu preciso de saber, porque eu sei que não sou assim. Eu não sou nada assim. Eu gosto de beijos, abraços, mimos, sorrisos, e tudo mais. Eu gosto de ver as pessoas a sorrir, sejam elas quem forem. Gosto de ouvir dizer que gostam de mim, que gostam muito de mim. Gosto de ouvir música, acompanhada. Gosto que cantem para mim, nem que seja só uma palhaçada qualquer. Gosto de cantar, de saltar, de gritar, de correr, de pular e de falar. Eu falo, falo muito. Porque sim, porque me apetece, porque quero e porque gosto. Porque sim, só porque sim. Porque gosto de ouvir todas as palavras bonitas no tom suave, mas rouco, que é a minha voz. Delicio-me a falar, e a ouvir falar. Gosto mesmo de sons, dos sons que as palavras produzem. E eu preciso de me encontrar, preciso de acabar com isto tudo. Esta não é a minha vida. Eu estou a viver a vida, a sentir os sentimentos, de outra pessoa que não eu. E não gosto, vocês gostam? Preciso de voltar, porque me sinto um ET na terra, que não tem nada que o mantenha de pé, não tem nada a que se agarrar, com todas as suas forças. Não tem nada que o faça sorrir, daquele jeito tão especial.